9 de janeiro de 2010

A HP é racista?

Antes de começar a escrever sobre o assunto quero deixar claro que sou contra qualquer tipo de preconceito, seja ele racial, religioso, sexual ou qualquer outro que se pense.
Deu pra perceber que o assunto é delicado. Primeiro temos que admitir uma coisa: dizer que alguém (ou uma empresa) é racista é uma acusação grave. Para começar, em alguns países preconceito racial é crime. No caso de uma empresa, deixar de vender para um determinado grupo étnico é, no mínimo, um erro comercial.
Surgiu na internet a algumas semanas um vídeo de um consumidor da HP que demonstrava que a sua webcam com sistema de reconhecimento facial não funcionava com pessoas negras. Prova irrefutável. Vamos ao vídeo:

Mas "péra" lá. Uma coisa me chamou a atenção. Mas antes de explicar o que me motivou a escrever este post (e quero deixar bem claro que não vou defender a HP) tenho que passar uma informação técnica pouco divulgada.
Todo sistema de biometria (ou seja, que usa partes do corpo humano para introduzir dados ao computador) tem falhas. Qualquer um que já usou o IBM ViaVoice já teve vontade de jogar o microfone pela janela. Quem nunca teve problemas com a máquina que faz a leitura das impressões digitais no DETRAN? Reconhecer voz, assim como ler as impressões digitais é muito difícil porque cada um tem um timbre de voz e as impressões não se repetem. Quem achou que o reconhecimento facial seria fácil?
O reconhecimento facial pode ser feito de várias formas. E quando eu digo várias são várias mesmo. A HP optou por uma forma menos difícil (se é que posso escrever desta forma): o reconhecimento dos contrastes do rosto para identificar os olhos, o nariz e a boca. Simples assim. Mas existe um ponto crítico: a iluminação ambiente.
Todos vocês podem notar no vídeo que a iluminação não é adequada. Para mostrar isso basta perceber que a luz vem por trás das pessoas quando o correto seria vir pela frente, ou seja, o foco de luz deveria estar atrás da câmera e não na frente dela (no caso a luz está no teto e a câmera está apontada para lá). Isso faz com que os rostos fiquem mais escurecidos. No caso do nosso amigo, sua pele já é escura por natureza e a luz ambiente não ajuda. Quando a sua amiga de pele branca aparece, a câmera não tem dificuldades em captar sua imagem. Lembrando que o fato do vídeo ter boa nitidez não é garantia de boa imagem, uma vez que o nosso monitor do computador(onde estamos vendo esse vídeo) pode estar ajustado de forma errada, nos dando a impressão do vídeo estar bom quando na verdade não está.
Imaginem a situação contrária: uma luz muito forte nos rostos das duas pessoas. Imaginou? Agora responda: qual seria o resultado? Não fiz o teste, quem puder o faça mas posso prever que o resultado seria exatamente o contrário, com a câmera reconhecendo o rosto do rapaz e deixando de reconhecer o rosto de sua amiga. Isso se deve ao fato de os contrastes no rosto dela sumirem caso a luz seja forte demais no seu rosto. Levando em consideração que por mais cara que seja a câmera da HP, ela é um acessório de um notebook que deve ter baixo custo e isto quer dizer que o sensor de luz dela não é dos melhores.
Agora pergunto: seria então a câmera da HP racista de acordo com a condição de iluminação? Simplesmente não. O que aconteceu foi uma limitação quanto à tecnologia usada. O erro da HP está em não divulgar informações básicas sobre como iluminar corretamente o rosto para que a câmera sempre funcione. Tenho certeza que o engenheiro responsável nunca mais vai esquecer de divulgar informações importantes para os usuários.
O problema todo é que, uma vez divulgado o vídeo, algum jornalista sensacionalista deve ter pensado “isto dá uma boa matéria dizendo que a HP é racista” e tascou mão em sua caneta. Apesar da HP se pronunciar dizendo que é uma limitação e que está estudando como resolver este problema, sua imagem já foi arranhada.
Tudo isto mostra que, apesar de todos os avanços, a tecnologia ainda tem muito a progredir. E os seres humanos também…

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